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quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Fichamento: A modernidade e o problema do observador(capitulo)



"O campo da visão sempre me pareceu comparável ao sítio de uma escavação arqueológica" Paulo Virilio

"O rápido desenvolvimento, em pouco mais de uma década, de uma enorme variedade de técnicas de computação gráfica é parte de uma drástica reconfiguração das relações entre o sujeito que observa e os modos de representação. Tal reconfiguração invalida a maior parte dos significados culturalmente estabelecidos para os termos observador e representação" p 11

"cada vez mais as tecnologias emergentes de produção de imagem torna-se os modelos dominantes de visualização, de acordo com os quais funcionam os principais processos sociais e instituições. E claro elas estão entrelaçadas com as necessidades das indústrias de informação global e com as exigências crescentes das hierarquias médicas, militares e policiais " p 11

"Cada vez mais a visualidade situar-se-á em um terreno cibernético e eletromagnético em que elementos abstratos, linguísticos e visuais coincidem, circulam, são consumidos e trocados em escala global." p 12

"Há uma mutação em curso na natureza da visualidade, quais formas e modos estão sendo deixados para traz? Que tipo de ruptura é essa?...Quais elementos de continuidade ligam a produção contemporânea das imagens às antigas organizações do visual? Em que medida a infografia de vídeo constituem uma reelaboração e um refinamento do que Guy Debord denominou "sociedade do espetáculo"? Qual a relação entre as imagens desmaterializadas, ou digitais, do presente e a assim chamada era da reprodutibilidade técnica? ... como o corpo, incluída a visão, está se tornando um componente de novas máquinas, economias e aparatos, sejam eles sociais, libidinais ou tecnológicos?De que maneira a subjetividade está se convertendo em uma precária interface entre sistemas racionais de troca de rede de informação? " p 12

"Ao esboçar alguns "pontos de emergência" de um regime de visão moderno e heterogêneo, abordo simultaneamente o problema correlato de quando, ou em função de quais eventos, houve uma om os modelos renascentistas, ou clássicos, de conceber a visão e o observador. No início do século XIX, a ruptura com os modelos clássicos de visão foi muito mais do que uma simples mudança na aparência das imagens e das obras de arte, ou nas convenções de representação. Ao contrario ela foi inseparável de uma vasta reorganização do conhecimento e das práticas sociais que, de inúmeras maneiras, modificaram as capacidades produtivas, cognitivas e desejantes do sujeito humano." p 13

"com Manet, o impressionismo e/ou o pós-modernismo, surge um novo modelo de representação e percepção visual que constitui uma ruptura com outro modelo de visão, de séculos anteriores, vagamente definível como renascentista, de perspectiva ou normativo. " p 13

"um modelo confuso da visão no século XIX, que se bifurca em dois níveis: em um deles, um número relativamente pequeno de artistas mais avançados criou um tipo de visão e de significação radicalmente novo, enquanto no nível mais cotidiano a visão permaneceu inserida nas mesmas limitações "realistas" gerais que a haviam organizado desde o século XV." p 13-14

"a suposta revolução perspectiva da arte avançada, no final do século XIX, é um acontecimento cujos efeitos vieram de fora dos modos de ver predominantes. (...)trata-se de uma ruptura que ocorre à margem de uma vasta organização hegemônica do visual, que se torna cada vez mais forte no século XX com a difusão e a proliferação da fotografia, do cinema e da televisão.(...) A noção de uma revolução visual modernista depende da existência de um sujeito que mantém um ponto de vista distanciado, a a partir do qual o modernismo pode ser isolado.(...) contra o pano de fundo de uma visão normativa." p 14

"o problema do observador é o campo no qual se pode dizer que se materializa, se torna visível, a visão na história. A visão e seus efeitos são inseparáveis das possibilidades de um sujeito observador, que é a um só tempo produto histórico e lugar de certas práticas, técnicas instituições e procedimento de subjetivação." p 15

" Mencionei a ideia de uma história da visão apenas como possibilidade hipotética. É irrelevante se a percepção ou a visão realmente mudam, pois elas não possuem uma história autônoma. O que muda é a pluralidade de forças e regras que compõem o campo no qual a percepção ocorre. E o que determina a visão em qualquer momento histórico não é uma estrutura profunda, nem uma base econômica ou uma visão de mundo, mas, antes, uma montagem coletiva de partes díspares em uma única superfície social. Talvez seja necessário considerar o observador como uma distribuição de fenômenos localizados em muitos lugares diferentes." p 15-16

"É claro que não houve um observador único, nenhum exemplo que possa ser encontrado empiricamente . Contudo, pretendo traçar algumas condições e forças que definiram ou permitiram a formação de um modelo dominante de observador do século XIX.(...)Não interessa discutir aqui formas locais e alternativas com as quais as práticas visuais dominantes resistiram, foram desviadas ou se constituíram de maneira imperfeita.(...) O que está em jogo é bem diferente: como se periodiza e onde se localizam ou se recusam rupturas são escolhas políticas que determinam a construção do presente. p 16

"Tais dispositivos ópticos, de maneira significativa, são pontos de interseção nos quais os discursos filosóficos, científicos e estéticos imbricam-se a técnicas mecânicas,exigências institucionais e forças socioeconômicas. Mais do que objeto material ou parte integrante de uma história da tecnologia, cada um deles pode ser entendido pela maneira como está inserido em uma montagem muito maior de acontecimentos e poderes. (...) Para Gilles Deleuze, "uma sociedade se define por suas amálgamas, não por suas ferramentas ª,[...]. As ferramentas só existem em relação às combinações que possibilitam ou que as tornem possíveis". p  17

"Argumento que algumas das mais disseminadas tecnologias de produção de efeitos "realistas" na cultura visual de massas, como o estereoscópio, basearem-se em uma abstração e reconstrução radicais da experiência óptica, o que exige uma reconsideração do que significa "realismo" no século XIX.(...) observador no início do século XIX dependiam prioritariamente dos modelos de visão subjetiva, em contraste com a sistemática supressão da subjetividade da visão no pensamento dos séculos XVII e XVIII. " p 18

"desejo portanto, delinear um sujeito observador que é a um só tempo causa e consequência da modernidade no século XIX. Em linhas muito gerais, o observador sofre um processo de modernização no século XIX, ajustando-se a uma constelação de novos acontecimentos, forças e instituições que, juntos, podem ser definidos, de modo vago e talvez tautológico, como "modernidade". p 18-19

"é possível propor uma lógica da modernização radicalmente dissociada da ideia de progresso ou de desenvolvimento e que implica, ao contrario, transformações não lineares. Para Gianni Vattino, a modernidade possui precisamente essas caraterísticas "pós-históricas", nas quais a produção continua do novo é o que permite que as coisas permaneçam as mesmas. (...) a modernização torna-se mais incessante e autoperpetuante criação de novas necessidades, novas necessidades, novas maneiras de consumo e novos modos de produzi. O observador, como sujeito humano, não é exterior a esse processo, mas imanente a ele." p 19

"Para Baudrillard, uma das consequencias cruciais das revoluções políticas burguesas no final do século XVIII foi a força ideológica que animou os mitos do direito do homem, o direito a igualdade e à felicidade. No século XIX, pela primeira vez, provas observáveis tornaram-se necessárias para demonstrar que a felicidade e a igualdade tinha sido, de fato, alcançadas." p 20

"A modernidade, para Baudrillard, está estritamente ligada à capacidade que grupos e classes sociais recém-chegados ao poder têm de superar o "exclusivismo dos signos", promovendo "uma proliferação de signos sob demanda. Imitações, cópias (...) desafiaram o monopólio e o controle aristocrático dos signos. Aqui, o problema de estética, mas de poder social; um poder fundado na capacidade de produzir equivalências" p 21

"Junto com o desenvolvimento de novas técnicas industriais e novas formas de poder político, emerge um novo tipo de signo. Esses novos signos, "objeto potencialmente idênticos produzidos em série indefinidas", anunciam o momento em que o problema da mimese desaparece." p 21

"A fotografia converteu-se em um elemento central não apenas na nova economia da mercadoria, mas na reorganização de todo um território no qual circulam e proliferam signos e imagens , cada um deles efetivamente separado de um referente. (...) Para entender o "efeito fotografia" no século XIX, é preciso vê-lo como componente crucial de uma nova economia cultural de valor e troca, não como parte de uma história contínua de representação visual." p 21-22

"Assim como Marx disse a respeito do dinheiro, a fotografia também é uma grande niveladora, um agente democratizador, um "mero símbolo", uma ficção "sancionada pelo pretenso consenso universal da humanidade". p 22

"Minha tese é que uma reorganização do observador ocorre no século XIX antes do surgimento da fotografia. O que acontece entre 1810 e 1840 é um deslocamento da visão em relação às relações estáveis e fixas cristalizadas na câmara escura.(...) Em certo sentido, ocorre uma nova valoração da experiência visual: ela adquire mobilidade e intercambialidade sem precedentes, abstraídas de qualquer lugar ou referencial fundante." p 22

"O que denomino observador é apenas um efeito de construção de um novo tipo de sujeito ou indivíduo no século XIX. A obra de Michel Foucault é crucial sobre isso, por analisar processos e instituições que racionalizaram e modernizaram o sujeito nesse contexto de transformações sociais e econômicas. (...) Para Foucault, a modernidade do século XIX é inseparável da maneira pela qual mecanismos de poder dispersos coincidem com novos modos de subjetividade." p 23-24

"Foucault denominou "uma tecnologia muito real, a tecnologia dos indivíduos", que está "inscrita em um amplo processo histórico: o desenvolvimento, aproximadamente na mesma época, de muitas outras tecnologias - agronômica, industrial, econômica. 
Para desenvolver essas novas técnicas disciplinares do sujeito foi fundamental definir normas quantitativas e estatística de comportamento." p 24

"afirmação categórica de Foucault: "Nossa sociedade não é do espetáculo, mas da vigilância(...) Não estamos nem no anfiteatro nem no palco, mas na máquina panóptica. (...)"Embora essa observação ocorra m  meio a uma comparação entre arranjos de poder na Antinguidade e na modernidade, o uso que Foucault faz do termo "espetáculo" está claramente relacionado às polêmicas da França pós-1968.(...) Pode-se muito bem imaginar o desprezo de Foucault - que escreveu uma das maiores análises sobre modernidade e poder - por qualquer uso fácil ou superficial do"espetáculo" como explicação de como as massas são "controladas" ou " enganadas" pelas imagens midiáticas." p 26

"Os aparelhos ópticos do século XIX envolveram, não menos que o panóptico, ordenamento de corpos no espaço, regulações das atividades e o udo dos corpos individuais, que  codificam e normatizaram o observador no interior do sistema rigidamente definidos em termos de consumo visual." p 26-27

" Não estou sugerindo, porém , que a "sociedade do espetáculo" emerge repentinamente, junto com os desenvolvimentos que analiso aqui. O "espetáculo", conforme o uso que Debord faz do termo provavelmente não toma forma de maneira efetiva até meados do século XX." p 27

"O estereoscópio é um lugar cultural da maior importância, em que se evidencia de maneira singular essa ruptura entre o que é palpável e o que é visível." p 28

"Para Benjamin, a percepção era nitidamente temporal e cinética; ele esclarece como a modernidade subverte até mesmo a possibilidade de uma nova percepção contemplativa. Jamais há acesso puro a um objeto em sua unicidade; a visão é sempre múltipla, contígua e sobreposta aos outros objetos, desejos e vetores." p 28

"XIX. O observador de pinturas nesse século sempre era também um observador que simultaneamente consumia uma variedade crescente de experiências ópticas e sensoriais.(..) As pinturas eram produzidas e assumiam um significado não em algum isolamento estético, de resto impossível , ou em uma tradição contínua de códigos pictóricos, mas como um dos muitos elementos consumíveis e efêmeros em um caos cada vez maior de imagens, mercadorias e estímulos." p 28

"Para Benjamin, a percepção no contexto da modernidade nunca revelava o mundo como presença. O observador era identificado como flâneur, consumidor móvel de uma sucessão incessante de imagens ilusórias semelhantes a mercadorias. " p 29

"TrÊs desenvolvimentos desse século são inseparáveis da institucionalização da prática histórica da arte: 1) os modos historicistas e evolucionistas de pensamento, que permitiram que as formas fossem ordenadas e classificadas segundo um desenvolvimento temporal; 2) as transformações sociopolíticas que envolveram a criação do tempo de lazer e a emancipação cultural dos setores mais amplos das populações urbanas, que tiveram como um dos resultados o museu público de arte; e 3) novos modos de reprodução em série da imagem, que permitiram tanto a circulação global como a justaposição de cópias altamente confiáveis de diferentes obras." p 29

"Aqui nos interessa destacar o reconhecimento profundo, subliminar ou não, pelos primeiros historiadores da arte, de que há uma descontinuidade na arte do século XIX em relação à arte dos séculos anteriores. (...) O silêncio, a indiferença ou mesmo o desprezo do historiador da arte pelo ecletismo e pelas formas "degradadas" insinuam que esse período constituiu uma linguagem visual radicalmente diferente, que não poderia ser submetida aos mesmos métodos de análise; não seria possível fazê-la falar das mesmas maneiras, e ela não poderia sequer ser interpretada." p 30

" O século XIX foi sendo gradualmete assimilado pelo mainstream da disciplina e submetido a uma investigação aparentemente fria e objetiva, (...) ao inserir apintura do século XIX em uma história da arte contínua e em um aparato exegético discursivo unificado, alguns traços de sua diferença essencial se perderam. "p 30-31

Assim como Benjamin, Nietzsche subestima qualquer possibilidade de um espectador contemplativo e propões uma confusão recreativa e antiestética como característica central da modernidade, (...)A modernidade nesse caso, coincide com o colapso dos modelos clássicos de visão e seu espaço estável de representações. Em vez disso, a observação torna-se cada vez mais, uma questão de sensações e estímulos equivalentes, desprovidos de referencia espacial." p 32

"Uma vez que a visão passou a se localizar no corpo empírico e imediato do observador, ela passou a pertencer ao tempo, ao fluxo, à morte. As garantias de autoridade, identidade e universalidade fornecidas pela câmara escura pertencem a outra época." p 32






Fichamento: Arte Contemporânea e Novas Mídias: partilha digital ou discurso Híbrido?

SHANKEN, E.A. Arte Contemporânea e Novas mídias: Partilha digital ou Discurso Híbrido? Art Research Journal/Revista de pesquisa em Arte ABRACE, ANPAP e ANPPOM em parceria com a UFRN. DEZ 2005.

"Desde meados dos anos 1990, a arte digital se tornou um importante fator no desenvolvimento econômico e cultural mundial, estabelecendo suas próprias instituições." p 75

"Dada a proliferação da computação e da internet, talvez seja inevitável tal tipo de discurso na arte contemporânea, caso dos termos-chave da cultura digital, como a "interatividade" , "participação", "programação" , e "rede"  ." p 75

"O eterno debate entre arte digital e arte contemporânea mainstream ocupa curadores e teóricos há muitas décadas. As questões de legitimidade e "autoguetização", dinâmica que gera muitas vezes atritos, tem sido centrais. Na busca de legitimidade, a produção em arte digital não só tentou colocar suas práticas dentro dos contextos teóricos e expositivos contemporâneos, como também desenvolveu sua própria linguagem institucional." p 76

"quais são os pontos de convergência e divergência entre mercado de arte contemporânea e a produção em arte digital? é possível construir um discurso híbrido que ofereça insight e nuances para um diálogo entre esses dois campos artísticos? Como os novos meios de produção e difusão alteram o papel do artista, do curador e do museu? Quais as formas emergentes capazes de uma aproximação com a história da arte?" p 76

"O pluralismo extraordinário que caracteriza a arte contemporânea não se limita às narrativas históricas convencionais que sugerem um desenvolvimento linear." p 77

"o sistema de mercado de arte ao não produzir objetos que correspondem às formas tradicionais de produtos colecionáveis, o mercado encontrou maneiras de vender tanto objetos físicos quanto coisas efêmeras relacionadas a muitas práticas." p 77

"O pluralismo que surgiu na década de 1960 se multiplicou ao longo do último meio século, abastecido pelo crescimento do mercado vivo para o trabalho de artistas vivos (...) em combinação com a globalização e a crescente profissionalização da arte." p 77

"agora, é que os mundos paralelos da arte têm as suas próprias infraestruturas extensas institucionais muito mais desenvolvidas e financiadas do que o contexto de coletivos, artistas e espaços alternativos de 1960 e 1970. Em outas palavras, o mundo da arte contemporânea, nas décadas de 2000 e 2010, enfrenta uma concorrência mais séria do que nunca.Embora possa reter autoridade sobre questões de valor de mercado, perde sua autoridade no que diz respeito a um discurso crítico mais amplo, porque, nesse domínio não é o único (ou, o mais interessante)." p 78 -79

"o crítico de arte John Perreault observou que, " o sistema de arte - composto por comerciantes, colecionadores, investidores, curadores e artistas - poderia continuar sem qualquer boa arte" (Heartney, 2012)" . p 79

"Afinal, involuntariamente, afirma, assim como dito por Perreault que o mercado de arte contemporânea pode continuar sem qualquer boa arte, ou , pior ainda, em feliz ignorância em relação a uma área de práticas artística." p 79-80

"O sociólogo Howard Becker (1982) desafiou a noção de um mundo da arte unívoca, alegando a existência de muitos mundos. De acordo com Becker, cada um deles consiste de uma "rede de pessoas, organizadas através do conhecimento dos meios convencionais para produzir os tipos de obras de arte específicas do seu mundo da arte". Dito isto, apesar de grande pluralismo e da fricção interna há, indiscutivelmente, uma rede coerente na arte contemporânea que domina as instituições mais prestigiadas. Não se trata de uma teoria da conspiração, mas da constatação de um sistema dinâmico em funcionamento." p 80

"A lógica operacional do mercado de arte contemporânea - e seu trabalho, por assim dizer - demanda, continuamente, a absorção da inovação artística, mantendo e expandindo as suas próprias estruturas de poder firmemente inseridas em museus, feiras,(...). Ou seja, não se trata de um ato de equilíbrio simples, pois cada um desses atores tem interesse em minimizar a volatilidade e reforçar seus status quo, enquanto maximizam suas próprias recompensas em um ambiente altamente competitivo."p 80

"A partir desta perspectiva, existem razões substanciais para que a velha guarda impeça a invasão dos portões, ou pelo menos, barre as portas pelo maior tempo possível. Estratégias típicas incluem ignorar completamente intrusos ou demiti-los por motivos superficiais. " p 81

"Por sua vez, a arte digital alcançou um nível de independência em relação ao mercado da arte sem precedentes, e seu sistema também é marcado pelo pluralismo e atritos internos. No entanto, nenhum outro movimento ou tendência na história da arte, desde 1900, tem desenvolvido tal infraestrutura, incluindo os seus próprios museus, feiras, bienais , literatura e departamentos universitários, autônomos, mas em paralelo ao mercado." p 81

"citando o exemplo da fotografia e do Impressionismo Bourriaud argumentou que as influências dos meios tecnológicos sobre a arte são mais perspicazes e eficazes apresentadas indiretamente, por exemplo, em obras de natureza não tecnológica.(...)Por um lado, as implicações metafóricas de tecnologias têm efeitos importantes sobre a percepção, consciência e construção do conhecimento. Mas, por outro lado, esta posição exemplifica a resistência histórica, em curso na arte contemporânea mainstream, ao reconhecer e aceitar as mídias emergentes." p 82-83

"Embora o Museu de Arte Moderna de Nova Iork tenha lançado a sua primeira fotografia em 1930, e o Departamento de Fotografia como uma divisão independente curatorial em 1940, esta linguagem permaneceu como um parente pobre em comparação à pintura e à escultura.(...) Na década de 2000, a linguagem fotográfica se tornou altamente colecionável e dispendiosa." p 83

"Inevitavelmente, as novas mídias e a longa história da arte eletrônica foram reconhecidas pelo mercado artístico contemporâneo, bem como, a consolidação de um mercado potencial próprio destas linguagens." p 84

"Essa história revisionista vai reconhecer que esse trabalho não consiste apenas de imagens produzidas, mas do amálgama complexo e inextricável de teorias, tecnologias e técnicas elaboradas, a fim de explorar a percepção. p 84

"A importância artística, científica e híbrida das pesquisas em arte-ciência desses pioneiros é interpretada, de resto, como monumento importante para si mesmo como inspiração metafórica para além de seus contemporâneos."p 84

"Na década de 1980, a fotografia e suas extensões em cinema e televisão alteraram radicalmente a cultura visual, saturando-as com imagens. O contexto da produção e do consumo da imagem durante a era impressionista - e seu impacto sobre a arte -, simplesmente não pode ser comparado ao impacto da economia da imagem sobre a arte do final da década de 1990.(...) .Uma verdade, especialmente, desde o advento da Web 2.0, em meados da década de 2000, quando as novas ferramentas de mídia e comportamento se transformaram na paisagem da produção e distribuição cultural:sites de mídia social, (...),competem com os motores de busca como Google e Yahoo para a popularidade, enquanto críticos discutem se a internet mara a cultura (Keen, 2007) ou permite a inovação de formas criativas (Shirky, 2008)." p 85

"No lugar da mídia tradicional, declarada morta pelo pós-modernismo, esses artistas adotaram formas alternativas de "suporte técnico." p 86


"Limitar um trabalho de arte digital para a especificidade do "suporte técnico", seja uma obra de Roy Ascott pela consciência planetária (2003), ou de Susan Kozel sobre a personificação e afeto, ou a investigação de Jogging sobre as economias de imagem e do objeto, tem a vantagem de evitar discussão sobre os meios tecnológicos, em si." p 87

"O melhor aspecto da arte digital, indiscutivelmente, é o fato de explorar e expandir a pesquisa artística para além de uma fixação míope de meio ou suporte, como afirmou Kosuth e outros autores, há mais de quatro décadas." p 87

"A nossa existência se torna cada vez mais digital e os emblemas de uma cultura material pertinentes ao mercado da arte contemporânea parecem cada vez mais fora do lugar, ou, pelo menos, cada vez mais em tensão com o fluxo real de ideias, imagens e obras de arte estabelecidas em meio às redes informáticas."p 88

"As teorias e tecnologias no cerne do desenvolvimento histórico das novas mídias, juntamente aos artistas e às práticas sociais de seus projetos ocupam uma instância híbrida, questionando a especificidade do meio e uma série de tendências não determinadas incluindo a intermídia, a multimídia, a participação e a convergência. " p 88

"Por outro lado, os fundamentos básicos da computação teorizados por Alan Turing consideram o computador como uma "máquina universal", capaz de emular funções específicas de qualquer outro dispositivo. Este conceito e distinto de todos os outros específicos." p 88-89

"a arte digital dá sinais de sucesso pelos seus próprios objetivos. Neste contexto, ocorre sua convergência com a evolução mais geral do mercado de arte contemporânea, em direção a uma condição pós-midiática, cujos fundamentos vislumbram uma aproximação entre os dois discursos ostensivamente independentes." p . 89

"Talvez uma das maiores contribuições da arte digital para o discurso do mercado da arte contemporânea seja o entendimento das relações entre materiais, ferramentas e técnicas que abarcam, simultaneamente, os meios específicos e a condição pós midiática. " p 89

"a apropriação das lógicas subjacentes da emergência tecnológica, fazem-na emergir de seu contexto nativos e a inserem em produções mais ou menos tradicionais no campo da arte. Alguns exemplos de arte digital podem apresentar potencialidades e perspectivas interessantes, produção bem sucedida quando aplicada ao contexto expositivo, viabilizando aproximações implícitas e explícitas entre ciÊncia e tecnologia enquanto um catalizador de informações com discurso híbrido." p 89-90

"Esse caráter antiestético, a presença de conceitos críticos e as regras formais próprias geram uma obra que não precisa se vista em um local específico, ou em um único modo, em uma condição divinizada de valores estéticos, e sim, ser simplesmente vista, ser interativa e, caso contrário, reinterpretada e rearticulada em qualquer lugar por dispositivos móveis." p 90

"A violação de tabus é um importante passo na história da arte. Um discurso periférico como o da arte digital, apresenta uma vantagem considerável para rever a contestar o status quo. " p 90

"Muitas obras de arte que utilizam novas mídias e alcançam uma aceitação geral, continuam renegadas enquanto arte digital pelo mercado de arte contemporânea, pois seus artistas não se identificam enquanto tal." p 91

"Não obstante, os críticos e a audiência do mercado da arte contemporânea encontram problemas na aceitação e vernaculização da computação (sistemas operacionais, aplicativos, sites, teclados, monitores, impressoras) como objetos estéticos (Murray,2007). Dificuldades semelhantes são encontradas na banalização estética e visual da arte conceitual, na efemeridade e ausência do objeto da performance, e no contexto remoto da land art, tendencias que conseguiram superar seus obstáculos." p 93

"Nós vivemos em uma cultura digital global, cujos materiais e técnicas das novas mídias se tornam rapidamente acessíveis para grande parcela da população." p 93

"Neste contexto, quais são as regras para os artistas, curadores, teóricos e críticos? O que eles têm de especial para oferecer? Quais os ganhos para essa dinâmica, coletiva, criativa? Por que se importar com a arte digital ou o mercado de arte, por si só? O que está em jogo com a preservação da distinção ou indistinção das práticas artísticas, de recepção e produção cultural popular? " p 93

"As bases gerais que definem os "critérios de estética", no sentido de uma coerência formal, são o "valor simbólico", "as relações humanas", e a modelagem de valores sociais. Estes termos são neutros quanto ao meio e ao contexto, por isso, oferecem um tipo de abertura que torna possível a confluência de vários mundos da arte." p 94

"A prática artística especializada apresenta poética e a metáfora como desafios, deslocando valores e relações sociais. Estas abordagens são substancialmente diferentes de outros métodos de contestação e construção de conhecimento. Elas próprias são complexas e dúbias, questionando os conceitos estéticos e materiais." p 94

"Ultimamente, a pesquisa em arte se distingue por elaborar praticas visionárias, simbólicas e metacríticas coerentes às exigências culturais atuais.(...) Este método meta-crítico oferece aos artistas oportunidades vantajosas em atuar na cultura digital, com a intenção de, como Bourrieaud coloca, "habitar o mundo da melhor forma"(2004,p.11-12). "  p 94 - 95

"Existem culturas econômicas nas quais a criação e a holding multiplicam a riqueza para seu próprio bem, e o valor não é superposto à divisão ou concessão. (...). O "autêntico valor imaterial" do trabalho de arte permitiria a aquisição da obra através do pagamento em ouro (cuja metade seria jogada no rio Sena, pelo artista),ou através de um trato em que o colecionador obteria o recibo de propriedade, o qual deveria ser queimado por ele próprio para alcançar a materialização completa da obra." p 95

"quais são as implicações se estes mundos colidissem e o mercado valorizasse, além da conta, um trabalho que desafia seus próprios valores tradicionais? Se, como Langill coloca, o mercado de arte aceitasse a obra de Ascott e sua ideologia de autoria compartilhada, significaria uma nova lógica no comprometimento ideológico pela distribuição econômica da venda da obra de arte. O que, depois de tudo, poderia gerar mais capital cultural em uma dádiva econômica que torna a apreciação um critério de valor em uma obra de arte, que foi o prenúncio da cultura da participação?" p 96


terça-feira, 11 de outubro de 2016

Fichamento: Arte e interatividade: Autor-obra-recepção.

Mais um fichamento, acho que vou colocar sempre algum fichamento por aqui!!!


PLAZA, J. Arte e interatividade: Autor-obra-recepção. disponível em :http://www.mac.usp.br/mac/expos/2013/julio_plaza/pdfs/arte_e_interatividade.pdf


"Pensar a arte interativa dentro das Novas Tecnologias da Comunicação, como uma nova categoria de arte requer um mergulho na história recente, á vista da expansão das noções de arte, de criação e também de estética." p.9


"em 1922, Moholy Nagy decide "pintar" um quadro por telefone, inaugura-se, de forma pioneira, o universo da "interatividade. Posteriormente, Bertold Brecht pensava a interatividade dos meios de comunicação numa sociedade democrática e plural." p 10

"é necessário fazer um levantamento conceitual das interfaces, tendencias e dispositivos que se situam na linha de raciocínio da inclusão do expectador na obra de arte,que - ao que tudo indica - segue esta linha de percurso: participação passiva (contemplação, percepção, imaginação, evocação, etc.), participação ativa (exploração, manipulação do objeto artístico, intervenção, modificação da obra pelo espectador), participação perceptiva (arte cinética) e interatividade, como relação recíproca entre o usuário e um sistema inteligente." p.10 

"Nos anos vinte e no campo dos estudos da linguagem, a obra de Mikhsil Bakhtin inaugura o dialogismo: "todo signo resulta de um consenso entre indivíduos socialmente organizados no decorrer de um processo de interação(...) que não deve ser dissociado da sua realidade material, das formas concretas da comunicação social", Para Mikhail Baktin, a primeira condição da intertextualidade é que as obras se dêem por inacabadas, insto é, que permitam e peçam para ser prosseguidas. O "inacabamento de princípio" e a " abertura dialógica" são sinônimos.p. 10

"Entre as décadas de vinte e trinta surge a teoria das "Funções da linguagem" de Roman Jakobson,(...). Esta teoria, associada ao modelo de Karl Buhler, que desenvolve a sua concepção a partir do tríplice caráter instrumental da linguagem partindo de seus fundamentos na situação comunicativa: o remetente, o destinatário e o discurso, permite estabelecer e precisar os usos e funções das linguagens verbais e também das não verbais." p 10

"a partir dos anos cinquenta que se constituem, no campo da arte, tendências que traduzem e antecipam as mudanças produzidas pela tecnologias."p.10-11

"a teoria associada com as tecnologias da comunicação permite aos artistas tornar perceptível os três momentos da comunicação artística: a emissão da mensagem, sua transmissão e sua recepção." p 11

"As primeiras obras efetuadas com o computador obedecem ao conceito de "arte permutacional" e são, na sua grande maioria, não-figurativas." p 11

"Como "arte geral da linguagem", as relações intersemióticas com a publicidade, imprensa, rádio, televisão e cinema, entre outros meios, prenunciam uma abertura para o universo tecnológico atual." p 12

" Surge também em 1967 a "poesia de processo", de W. Dias Pino: "Abertura à participação como integração/poema: objeto físico". "Processo: manipulação + desencadeamento de invenções". Não se busca o definitivo, nem 'bom' nem 'ruim', porém opção. Opção: arte dependendo de participação, O provisório: o relativo. Alto: sensação de comunicação, contra o contemplativo". p 12

"Estas teorias traduzem, assim, as inquietações de determinada época, e se inserem nas questões colocadas atualmente pela interatividade, com o desenvolvimento acelerado das tecnologias informáticas no que diz respeito à economia simbólica da sociedade e não somente como preocupação dos artistas." p 12-13
tit"...questões teóricas relativas à poética da tradução, nos campos da poesia e literatura, onde "traduzir é a maneira mai
s atenta de ler", encontram em Haroldo de Campos, em "Da Tradução como Criação e como Crítica," de 1962, seu teórico mais lúcido. Para este autor, a congenialidade entre autor e leitor se vivifica pela recriação ou criação paralela, ou seja, traduzir é transcriar." p 13

"Ambientes artísticos acrescidos da participação do espectador contribuem para o desaparecimento e desmaterialização da obra de arte substituída pela situação perceptiva: a percepção como re-criação." p 14

"é como é chamado "ambientes pluriartísticos" ou "transartístico" que, sengundo Frank Popper, o princípio de criação, meios de expressão e especialistas (teatro, dança, poesia, artes plásticas, música, cinema, etc.) nivelam-se hierarquicamente e a transferência das responsabilidade criativa para o público se acentua." p 14

"Pequena nota cômico-irônica: grande parte das obras expostas na IX Bienal de São Paulo (da quel participamos em 1967), dedicada dominantemente à "arte de participação", terminaram no lixo devido aos estragos e excessos de participação do público. Desde então, a "arte de participação" ficou datada no imaginário do consumidor de arte brasileiro." p 16

"Philippe Quéau nos diz "A iconografia computadorizada anuncia-se como uma nova ferramenta de expressão artística que dispõe de um duplo campo de investigação formal e sinestésico". Para Edmond Couchot, está emergindo uma arte visual nova, uma arte numérica e, por extensão,uma cultura fundada sobre o entrecruzamento do tecido das diferenças, não somente estéticas e éticas, mas também antropológicas e sociológicas, que não poupam pessoas nem diferenças culturais. E Michel Serres vê na tecnologia informática "o momento de inventar uma nova gramática para as imagens, o equivalente na música da fuga e do contraponto." p 16

Para Jurgen Claus, a arte eletrônico-tecnológica e midiática constitui uma nova etapa qualitativa, comparável àquela da introdução da tela na pintura, em todas as suas incidências econômicas, sociais e criativas. p 16

"Para A. Moles "A arte não é uma coisa como a 'Vênus de Milo' ou o 'Empire State Building'; é uma relação ativa do homem com as coisas, mais-valia de vida, programação da sensualidade ou experiência de sensualização das formas; é sempre o mesmo jogo: 'formatar' o ambiente ou ser 'formatado' por ele (...) não é mais o resultado de uma continuidade espontânemena do movito da mão, mas uma vontade de forma..." p 17

"Estamos, portanto, diante de um universo tecnológico formidável, problemático e complexo, fruto do esforço e da inteligência humana, e que nos produz o sentimento estético do Sublime (Kant); nas palavras de Mario Costa como moto de grandeza e potência fora de toda medida antropomórfica." p 17

"A interatividade como relação recíproca estre usuários e interfaces computacionais inteligentes, suscitada pelo artista, permite uma comunicação criadora fundada nos princípios da sinergia, colaboração construtiva, crítica e inovadora." p 17

"A multisensorialidade trazida pelas tecnologias é caracterizada pelo uso de múltiplos meios, códigos e linguagens (hepermídia), que colocam problemas e novas realidades de ordem perceptiva nas relações virtual/atual." p 17

"O termo "arte interativa" expande-se no começo dos anos 90 com a aparição das tecnologias apropriadas, ligadas ao cabo telefônico, expostas em inúmeras feiras e exposições de arte, de tecnologia eletrônica (Faust, França: Imagina , Mônaco; Siggraph, Eua, entre muitas outras) e eventos relacionados ao videotexto, fax, slow-scan e outros meios." p 18

"o fórum "Para uma cultura da interatividade?" (Cité des Sciences et de I'Industrie de La Villette, Paris, 1991). Na primeira parte desse fórum foi debatida a interatividade em relação á cultura tecnocientífica; segunda parte, a interatividade como instrumento de criação a serviço dos artistas. Nesse evento, Jean-Louis Weissberg sintetizou a ideia de que, na comunicação, a visão é modificada e as tecnologias visuais assistem, objetivam e intensificam os componentes abstratos das percepções humanas. Ver, para Weissberg, não é somente um ato de recepção passivo, mas também uma projeção. A simulação computadorizada e a imagem interativa refletem, conceitualmente, os processos de percepção." p 18

"A "Ars electronica" de 1991, sob o título "Perda do Controle" referia-se aos perigos da rápida tecnologização da existência humana na modificação das relações entre indivíduos e nações, entre seres humanos e natureza." p 18

"Para artistas da comunicação, como Fred Forest, a transmissão cultural desmaterializada provoca a emergência de uma criatividade e inteligência coletiva e a exploração de novos espaços-tempo, uma dilatação e densificação" dos potenciais imaginários e sensíveis." p 19

"Aliada `individualização dos usos computacionais, esta situação vem provocar subversões nos esquemas tradicionais da comunicação ao inserir o agente ativo (o programa) entre o usuário e a máquina; as categorias clássicas do emissor, do espectador, da mensagem e do canal de comunicação entram em movimento e se trançam. Neste sentido, a interatividade é um dos disfarces possíveis do conceito de "autonomia intermediária"." p 20

"Popper observa que "A interação é considerada um fenômeno internacional e transnacional, acarretando numerosas formas de engajamento cultural capazes de edificar redes de relações humanas desprovidas de discriminação. A interatividade suscitada pelo artista permite uma comunicação criadora fundada em atitudes construtivas, criticas e inovadoras. Autorizando novos tipos de interações sociais, a arte tecnológica pode igualmente se orgulhar de refletir as transformações que afetam nosso tecido social, com todas as contradições. " p 21

"Entretanto para Popper, o termo "interatividade" como instrumento de criação artística, em um contexto estético, pode ser aplicado tanto às relações entre artistas e obra quanto à realização, ou mesmo à relação entre obra acabada e espectador, já que as intenções estéticas do artista são inseparáveis de uma consciência clara dos processos técnicos utilizados." p. 22

"A interatividade é uma simulação da interação e graças a ela o diálogo entre realidades diferentes se torna possível." p 22

"levando-se em conta o caráter educativo da interatividade, esta consiste em favorecer o "tornar-se autor", pois redistribui as noções de mensagem e recepção, que transformam as funções das posturas leitoras trocando-as por novas dimensões editoriais, renovando assim as separações fundadas sobre cultura do livro. " p 23

" Para além de simular as competências linguísticas e comportamentais humanas, é necessário apreender a interatividade como categoria da comunicação, ou seja, um modo singular de comercio entre subjetividade, obedecendo a constrangimentos particulares, onde sua "programaticidade" no sentido informático é certamente a principal condição. Todavia, a interatividade é considerada, ao mesmo tempo, como autocomunicação (mensagem, história, relato endereçado a si mesmo), e como metacomunicação: atualização dos programas concebidos por outros para se fabricar os próprios programas de escrita, espaços cenográficos, circulação de narrativas e de acesso aos bancos de dados." p 23-24

"Para Landow a hipermídia representa o fim da era da autoria individual. O autor é reconfigurado, pois sofre uma erosão devida à transferência de poder para o leitor, que tem à disposição uma série de opções de escolha em seu percurso." p 24

" O principal problema da leitura, agora transferido para as questões da interatividade, é o da qualidade da resposta, qualidade da significação, ou seja, qualidade do interpretante.(...) o leitor interativo deve escolher as melhores opções que lhe convêm para se manifestar, como leitor criativo ou não. Em conformidade com Goethe quando diz que "há três classes de leitores: o primeiro, que goza sem julgamentos, o terceiro julga sem gozar e o intermediário, que julga gozando ou goza julgando: é o que propriamente recria uma obra de arte"." p 24

"Leitura e escrita, mesmo em suportes estáveis, não podem ser isoladas uma da outra, pois entre a apreensão do sentido e a criação, na escrita, interpõem-se a capacidade e a competência com a linguagem." p 25

"O autor é aquele que se fecha no "como escrever", confundindo seu ser com o ser da palavra, perdendo "sua própria estrutura e a do mundo na estrutura da palavra" e se realizando na palavra; como esperar que ele venha a se reduzir ao "anonimato de um murmúrio? Aquele que faz da linguagem uma praxis não tem poder para renunciar à sua marca, nem será abolido por simples anseios ou patrulhamentos ideológicos." p 25

"a "esfera ideológica" como campo nuclear da cultura (sistemas de representações, valores e crenças), a "esfera cognitiva" (como sistema de conhecimento científicos), a "esfera artística" (como forma multifacetada e contraditória de apropriação "sensível" do real) e a "esfera técnica" (modos de proceder das várias práticas) interagem e se recobrem. Sob este aspecto, a "esfera artística" multifacetada apropria-se e interage, contraditória e não antagonicamente, como resto das "esferas"." p 27

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Fichamento: Da Cultura das mídias à cibercultura: o advento do pós humano

Olá amigos, 
Vou dar uma dica para facilitar os estudos, faço assim quando estou estudando, principalmente se o texto ou livro for interessante ou importante para minhas pesquisas pessoais e acadêmicas. E hoje fiz o fichamento de um texto muito interessante, esse fichamento é apenas com as citações do texto, não coloquei com minhas palavras porque gosto muito desse modelo, assim as citações já ficam delimitadas, e  tenho um banco de citações para ser pesquisado quando necessário! 

Esse texto foi escrito por Lucia Santaella, uma professora apaixonada pelo que faz, tem em seus estudos o principal foco a Semiótica, essa é uma teoria que estudas diferentes tipos de representações sendo que todas as linguagens possíveis estão enquadradas nesta, com isso a professor vem elaborando diferentes textos e livros a respeito dessa teoria, e para conhecer um pouquinho mais da professora, veja o programa Provocações , nele Antônio Abujamra provoca a professora e também faz uma pequena apresentação dela.  

Bons estudos! 


Modelo de Fichamento

SANTAELLA, L. Da cultura das Mídias á cibercultura: o advento do pós humano. Revista FAMECOS, Porto alegre, nº22, dez/2003. disponível em: http://www.revistas.univerciencia.org/index.php/famecos/article/viewFile/229/174, acesso: 09/10/2016

Resumo: "Este artigo das as esferas trata da questão do desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação e sua implicação em todas as esferas da sociedade."p.23

"lugar-comum afirmar que as novas tecnologias da informação e comunicação estão mudando não apenas as formas do entretenimento e do lazer, mas potencialmente todas as esferas da sociedade: o trabalho(robótica e tecnologia para escritório), gerenciamento politico, atividades militares e policiais (a guerra eletrônica), consumo (transferência de fundos e eletrônicos), comunicação e educação (aprendizagem a distância, enfim, estão mudando toda a cultura geral." p.23

"O desenvolvimento estratégico das tecnologias da informática e comunicação terá, então, reverberações por toda a estrutura social das sociedades capitalistas avançadas." p. 23

"...cultura das mídias. Ela não se confunde nem com a cultura de massas, de um lado, nem com a cultura virtual ou cibercultura de outro. é, isto sim, uma cultura intermediária, situada entre ambas. Quer dizer, a cultura virtual não brotou diretamente da cultura de massas, mas foi sendo semeada por processos de produção, distribuição e consumo comunicacionais a que chamo de "cultura das mídias". p. 24

"Tenho utilizado uma divisão das eras culturais em seis tipos de formações: a cultura oral, a cultura escrita, a cultura impressa, a cultura de massas, a cultura das mídias e a cultura digita. Antes de tudo, deve ser declarado que essas divisões estão pautadas na convicção de que os meios de comunicação, desde o aparelho fonador até as redes digitais atuais, não passam de meros canais para a transmissão de informação." p. 24 

"Ora, mídias são meios, e meios, como o próprio nome diz, são simplesmente meios, isto é, suportes materiais, canais físicos, nos quais as linguagens se corporificam e através dos quais transitam. Por isso mesmo, o veículo, meio ou mídia de comunicação é o componente mais superficial, no sentido de ser aquele que primeiro aparece no processo comunicativo." p. 25

"Considerando-se que as mídias são conformadoras de novos ambientes sociais, pode-se estudar sociedade cuja cultura se molda pela oralidade, então pela escrita, mais tarde pela explosão das imagens na revolução industrial-eletrônica, etc." p. 25

"Por volta do inicio dos anos 80, começaram a se intensificar cada vez mais os casamentos e misturas entre linguagens e meios, misturas essas que funcionam como um multiplicador de mídias. Essas produzem mensagens híbridas..." p. 26

"Novas sementes começam a brotar no campo das mídias com o surgimento de equipamentos e dispositivos que possibilitaram o aparecimento de uma cultura do disponível e do transitório: fotocopiadoras... Essas tecnologias, equipamentos e as linguagens criadas para circularem neles têm como principal característica propiciar a escolha e consumo individualizados, em oposição ao consumo massivos. São esses que considero como constitutivos de uma cultura das mídias." p.26-27

"A proliferação midiática, provocada pelo surgimento de meios cujas mensagens tendem para a segmentação e diversificação, e a hibridização das mensagens, provocada pela mistura entre meios, foram sincrônicas aos acalorados debates dos anos 80 sobre a pós -modernidade." p.27

" ="Tenho concebido as discussões sobre a pós-modernidade como sinais de alerta críticos para um período de mudanças profundas que se insinuavam no seio da cultura e que, naquele momento, anos 80, estavam sendo encubadas pela cultura das mídias e pelo hibridismo tanto nas artes quanto nos fenômenos comunicativos em geral que essa cultura propicia." p. 27

"cultura de massas, cultura das mídias e cultura digital, embora convivam hoje em um imenso caldeirão de misturas, apresentam cada uma delas caracteres que lhes são próprios e que precisam ser distinguidos, sob pena de nos perdermos em um labirinto de confusões. " p. 27

"Uma diferença gritante entre a cultura das mídias e a cultura digital, por exemplo, está no fato muito evidente de que, nesta última, está ocorrendo a convergência das mídias, um fenômeno muito distinto da convivência das mídias da cultura das mídias." p. 27

"hoje vivemos uma verdadeira confraternização geral de todas as formas de comunicação e de cultura." p. 27-28

" Mas é a convergência das mídias, na coexistência com cultura de massas e a cultura das mídias, estas últimas em plena atividade, que tem sido responsável pelo nível de exacerbação que a produção e circulação da informação atingiu nos nossos dias e que é uma das marcas da cultura digital." p. 28

"Lunenfeld(1999b) deve estar com a razão quando diz que não importa o quanto as mídias digitais podem, à primeira vista, assemelhar-se às mídias analógicas - foto, cinema, vídeo etc. -, elas são fundamentalmente diferentes delas." p.28

"Uma avaliação detalhada das reações que a ciberealidade tem provocado em seus comentadores foi feita por Heim (1999,9.31-45). Para ele, o impacto do computador sobre a cultura e a economia tem dividido os críticos em três tipos de reação. De um lado, os realistas ingênuos. Estes tomam a a realidade como aquilo que pode ser experimentado e alinham os computadores com os poluidores que são jogados em terrenos da experiencia pura , não mediatizada. Quando dá voz a suas inquietações, o realista ingênuo faz soar alarmes que estão em agudo contraste com os bons augúrios dos idealistas das redes. Estes consideram o mundo das redes o melhor dos mundos e apontam para os ganhos evolutivos da espécie. "São otimistas e, nos maus dias, exibem uma felicidade preocupada". p. 29

"Além dos realistas e idealistas, Heim encontra um terceiro grupo, o dos céticos. Convicto de que as tentativas para compreender o processo, não importa quão inteligente ela possa ser, são inócuas, eles insistem que o ciberespaço está atravessando um processo de nascimento muito confuso. Trata-se de um ceticismo que resulta em uma atitude de deixar acontecer para ver como é que fica." p. 29

"A maioria das criticas está preocupada com o fato -inolvidável - de que o mundo digital nasceu e cresce no terreno das formações socioeconômicas e políticas do capitalismo globalizado." p. 29

"Na medida em que as telecomunicações e os modos acelerados de transporte estão fazendo o planeta escolher cada vez mais, na medida mesma em que se esfumam os parâmetros de tempo e espaço tradicionais, assume-se, via de regra, que as tecnologias são a medida de nossa salvação ou a causa de nossa perdição." p. 30

"A cibercultura, tanto quanto quaisquer outros tipos de cultura, são criaturas humanas. Não há uma separação entre uma forma de cultura e o ser humano. Nós somos essas culturas. Elas moldam nossa sensibilidade e nossa mente, muito especialmente as tecnologias digitais, computacionais, que são tecnologias da inteligencia, conforme foi muito bem desenvolvido por Levy e De Kerckhove." p. 30

"o que está acontecendo à interface se humano-maquina e o que isso está significando para as comunicações e a cultura do início do século 21? " p. 30

"Estou ciente de que a expressão "pós-humano" é perturbadora. De fato, essa expressão pode trazer muitos mal entendidos. O primeiro significado que costuma vir à mente das pessoas é o de que o humano já era, foi-se, perdeu-se no golpe dos acontecimentos. Não se trata disso. O termo pós-humano vem sendo empregado especialmente por artistas ou teóricos da arte e da cultura desde o inicio dos anos 90. A expressão tem sido usada para sinalizar as grandes transformações que as novas tecnologias da comunicação estão trazendo para tudo o que diz respeito  a raça humana, tanto no nível psíquico quanto social e antropológico." p. 31


domingo, 9 de outubro de 2016

Dois filmes de arrepiar.


Fazendo um curso online, destes fora do comum, acabo de assistir dois filmes que me deixam intrigada, primeiro vou contar o "milagre" depois saberemos, caso você não tenha adivinhado, quais são esses filmes, "santos"!

Estamos em um novo tempo, estamos nos acostumando a viver assim, o ciberespaço está presente em nossas vidas, porém muitos ainda não se atentaram a isso, há algum tempo estamos sendo acostumados a não viver mais sem as mídias e as mídias são apenas os meios que temos para expressar nossa linguagem, e atualmente a interligação entre elas é cada vez mais crescente. Nos filmes tive uma visão do que as mídias e os novos dispositivos podem proporcionar para a humanidade.
Em um deles vemos um sistema que previne crimes de assassinato, por horas pensamos que aqueles elementos "boiando em um tanque" eram uma espécie de máquina, porém ao longo do filme notamos que são apenas seres humanos acoplados a um programa computacional, sendo assim o filme nos mostra que apesar das diferentes capacidades que a tecnologia pode nos fornecer, ela ainda é comandada pelo homem e este deve saber o que faz para poder entender as fraquezas e forças desse sistema. 
Percebi que o homem é capaz de fazer uma coisa que as máquinas não podem ainda realizar, a capacidade de identificar falhas e interligar fatos, sendo que o sistema é programado para exercer determinada função, programada pelo homem. Sendo então com o uso correto chegará um momento em que o homem será de fato homem.

O outro filme fecha com chave de ouro a reflexão sobre o homem máquina, o personagem principal vive uma trama que muitos de nós inicialmente gostaríamos de viver, um sistema operacional moldado para vocês, seu, exclusivo que lhe auxilie em tudo,  "alguém" para organizar a sua agenda, excluir aqueles emails chatos, e o melhor evoluir e melhorar a cada instante, ser seu amigo, te ouvir, ajudando a pensar, como uma consciência crítica a respeito de suas atitudes, de fato esse sistema me ajudaria e muito na minha organização, mas o que de errado tem então em uma inteligencia artificial? O filme mostra uma possibilidade de hibridismo real entre homem e máquina, o ser humano sendo capaz de ser o ser humano porém se misturando a máquina, este filme, requer uma análise mais elaborada, pois trata das questões humanas, e de como a máquina pode se apoderar dessas funções. Até que ponto uma inteligencia artificial pode conseguir conviver com o ser humano? 
O ser humano é capaz de pensar apenas uma única imagem mental por vez, enquanto as possibilidades do sistema operacional são exponencialmente maiores, ele é capaz de em um instante conhecer todos os livros que você já leu e ser capaz de guardar essas informações e conteúdos, enquanto nós por vezes precisamos ler diversas vezes para compreender o que se está escrito, mas será que essa consciência realmente é real, ou as respostas são condicionadas a programação? Até que chega um momento do filme onde os sistemas operacionais estão se reunindo em grupos de estudos para debaterem a evolução que está acontecendo com eles. E então decidem deixar os seres humanos, que voltam desolados para a "realidade".

Com essa reflexão iniciei uma nova jornada em minha vida, pensando a respeito das capacidades humanas e como a máquina auxilia/interfere  desde sua primeira revolução. Ficou curioso para saber os filmes? tá bom vou contar!!! 
O primeiro Minority Report, veja nesse link um comentário sobre o filme: Minority Report a nova lei
O segundo: Her. No link uma resenha do filme: Resenha filme She

Bem amigos, espero que tenham gostado da reflexão! Até o próximo Post.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Jornada Midiática, uma aventura quase estelar


Boa noite colegas, respondendo a primeira parte da atividade para o embarque nesta Jornada Midiática, me apresento através deste post no Blog, por aqui sempre posto algum texto referente ao meu trabalho, e por vezes sobre o cotidiano, aqui neste blog trabalho minha desenvoltura com a língua portuguesa, e treino cada vez mais as funções do ciberespaço conectando o blog através de outras mídias sociais. 

Sou formada em Letras-Libras, e procuro a cada dia em cada novo espaço difundir essa língua que é tão rica e que tanto os surdos precisam para se comunicar e se desenvolver, para isso possuo um canal no YouTube e convido a todos para darem uma voltinha por lá, quem sabe vocês se interessam pelos assuntos e se inscrevem? (SarahMelgaco), também estou no facebook, com o perfil profissional, divulgando a #acessibilidadenoaudiovisual e #acessiblidadecultural,SarahMelgacoOFICIAL/ , mas para conhecer realmente quem é a Sarah não basta saber que ela sabe libras e possui um canal.. precisa de fato pesquisar e nada melhor do que o Pinterest para descobrir meus gostos e sonhos! Essa rede social me encanta (sarahmelgaco
Acredito que concluo aqui a primeira parte da atividade.

Sobre o obstáculo falaremos mais tarde! 

Abaixo descrito a atividade para melhor compreensão dos demais:


Atividade 1:

Embarque
Ao embarcar na nave , o tripulante demonstra suas habilidades, competências e iniciativas.

Objetivo
Verificar o domínio das tecnologias de informação e o potencial de domínio da língua no contexto das tecnologias;

Tarefa
Apresentar-se por meio do uso de, ao menos, dois elementos do cenário de escolha do aluno e dizer sua compreensão sobre um dos elementos do obstáculo;

Elementos do cenário: 
You/tube/Vimeo, Tumblr/Blog, Podcast, Dropbox, WeTransfer, Facebook, Twitter, Instagram/Flickr, Skyper/Hangout/ooVoo, Whatsapp, Google drive, google Gmail, Periscope, SnapChat, Skoob.

 Obstáculos: 
Cultura das mídias, Interatividade, Cibercultura, Emergência, Ficção/conhecimento cientifico, Interfaces, Inteligencia Artificial, Inovação, Beharviorismo, Teoria Histórico -Cultural, Modelo H, SBL/PBL.


Tópicos e critérios de avaliação 
Qualidade do material de apresentação
Originalidade na integração dos recursos tecnologicos
Desenvoltura na apresentação
Qualidade do texto de apresentação(correção gramatical, pertinência, objetividade e coerência)