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quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Fichamento: Arte Contemporânea e Novas Mídias: partilha digital ou discurso Híbrido?

SHANKEN, E.A. Arte Contemporânea e Novas mídias: Partilha digital ou Discurso Híbrido? Art Research Journal/Revista de pesquisa em Arte ABRACE, ANPAP e ANPPOM em parceria com a UFRN. DEZ 2005.

"Desde meados dos anos 1990, a arte digital se tornou um importante fator no desenvolvimento econômico e cultural mundial, estabelecendo suas próprias instituições." p 75

"Dada a proliferação da computação e da internet, talvez seja inevitável tal tipo de discurso na arte contemporânea, caso dos termos-chave da cultura digital, como a "interatividade" , "participação", "programação" , e "rede"  ." p 75

"O eterno debate entre arte digital e arte contemporânea mainstream ocupa curadores e teóricos há muitas décadas. As questões de legitimidade e "autoguetização", dinâmica que gera muitas vezes atritos, tem sido centrais. Na busca de legitimidade, a produção em arte digital não só tentou colocar suas práticas dentro dos contextos teóricos e expositivos contemporâneos, como também desenvolveu sua própria linguagem institucional." p 76

"quais são os pontos de convergência e divergência entre mercado de arte contemporânea e a produção em arte digital? é possível construir um discurso híbrido que ofereça insight e nuances para um diálogo entre esses dois campos artísticos? Como os novos meios de produção e difusão alteram o papel do artista, do curador e do museu? Quais as formas emergentes capazes de uma aproximação com a história da arte?" p 76

"O pluralismo extraordinário que caracteriza a arte contemporânea não se limita às narrativas históricas convencionais que sugerem um desenvolvimento linear." p 77

"o sistema de mercado de arte ao não produzir objetos que correspondem às formas tradicionais de produtos colecionáveis, o mercado encontrou maneiras de vender tanto objetos físicos quanto coisas efêmeras relacionadas a muitas práticas." p 77

"O pluralismo que surgiu na década de 1960 se multiplicou ao longo do último meio século, abastecido pelo crescimento do mercado vivo para o trabalho de artistas vivos (...) em combinação com a globalização e a crescente profissionalização da arte." p 77

"agora, é que os mundos paralelos da arte têm as suas próprias infraestruturas extensas institucionais muito mais desenvolvidas e financiadas do que o contexto de coletivos, artistas e espaços alternativos de 1960 e 1970. Em outas palavras, o mundo da arte contemporânea, nas décadas de 2000 e 2010, enfrenta uma concorrência mais séria do que nunca.Embora possa reter autoridade sobre questões de valor de mercado, perde sua autoridade no que diz respeito a um discurso crítico mais amplo, porque, nesse domínio não é o único (ou, o mais interessante)." p 78 -79

"o crítico de arte John Perreault observou que, " o sistema de arte - composto por comerciantes, colecionadores, investidores, curadores e artistas - poderia continuar sem qualquer boa arte" (Heartney, 2012)" . p 79

"Afinal, involuntariamente, afirma, assim como dito por Perreault que o mercado de arte contemporânea pode continuar sem qualquer boa arte, ou , pior ainda, em feliz ignorância em relação a uma área de práticas artística." p 79-80

"O sociólogo Howard Becker (1982) desafiou a noção de um mundo da arte unívoca, alegando a existência de muitos mundos. De acordo com Becker, cada um deles consiste de uma "rede de pessoas, organizadas através do conhecimento dos meios convencionais para produzir os tipos de obras de arte específicas do seu mundo da arte". Dito isto, apesar de grande pluralismo e da fricção interna há, indiscutivelmente, uma rede coerente na arte contemporânea que domina as instituições mais prestigiadas. Não se trata de uma teoria da conspiração, mas da constatação de um sistema dinâmico em funcionamento." p 80

"A lógica operacional do mercado de arte contemporânea - e seu trabalho, por assim dizer - demanda, continuamente, a absorção da inovação artística, mantendo e expandindo as suas próprias estruturas de poder firmemente inseridas em museus, feiras,(...). Ou seja, não se trata de um ato de equilíbrio simples, pois cada um desses atores tem interesse em minimizar a volatilidade e reforçar seus status quo, enquanto maximizam suas próprias recompensas em um ambiente altamente competitivo."p 80

"A partir desta perspectiva, existem razões substanciais para que a velha guarda impeça a invasão dos portões, ou pelo menos, barre as portas pelo maior tempo possível. Estratégias típicas incluem ignorar completamente intrusos ou demiti-los por motivos superficiais. " p 81

"Por sua vez, a arte digital alcançou um nível de independência em relação ao mercado da arte sem precedentes, e seu sistema também é marcado pelo pluralismo e atritos internos. No entanto, nenhum outro movimento ou tendência na história da arte, desde 1900, tem desenvolvido tal infraestrutura, incluindo os seus próprios museus, feiras, bienais , literatura e departamentos universitários, autônomos, mas em paralelo ao mercado." p 81

"citando o exemplo da fotografia e do Impressionismo Bourriaud argumentou que as influências dos meios tecnológicos sobre a arte são mais perspicazes e eficazes apresentadas indiretamente, por exemplo, em obras de natureza não tecnológica.(...)Por um lado, as implicações metafóricas de tecnologias têm efeitos importantes sobre a percepção, consciência e construção do conhecimento. Mas, por outro lado, esta posição exemplifica a resistência histórica, em curso na arte contemporânea mainstream, ao reconhecer e aceitar as mídias emergentes." p 82-83

"Embora o Museu de Arte Moderna de Nova Iork tenha lançado a sua primeira fotografia em 1930, e o Departamento de Fotografia como uma divisão independente curatorial em 1940, esta linguagem permaneceu como um parente pobre em comparação à pintura e à escultura.(...) Na década de 2000, a linguagem fotográfica se tornou altamente colecionável e dispendiosa." p 83

"Inevitavelmente, as novas mídias e a longa história da arte eletrônica foram reconhecidas pelo mercado artístico contemporâneo, bem como, a consolidação de um mercado potencial próprio destas linguagens." p 84

"Essa história revisionista vai reconhecer que esse trabalho não consiste apenas de imagens produzidas, mas do amálgama complexo e inextricável de teorias, tecnologias e técnicas elaboradas, a fim de explorar a percepção. p 84

"A importância artística, científica e híbrida das pesquisas em arte-ciência desses pioneiros é interpretada, de resto, como monumento importante para si mesmo como inspiração metafórica para além de seus contemporâneos."p 84

"Na década de 1980, a fotografia e suas extensões em cinema e televisão alteraram radicalmente a cultura visual, saturando-as com imagens. O contexto da produção e do consumo da imagem durante a era impressionista - e seu impacto sobre a arte -, simplesmente não pode ser comparado ao impacto da economia da imagem sobre a arte do final da década de 1990.(...) .Uma verdade, especialmente, desde o advento da Web 2.0, em meados da década de 2000, quando as novas ferramentas de mídia e comportamento se transformaram na paisagem da produção e distribuição cultural:sites de mídia social, (...),competem com os motores de busca como Google e Yahoo para a popularidade, enquanto críticos discutem se a internet mara a cultura (Keen, 2007) ou permite a inovação de formas criativas (Shirky, 2008)." p 85

"No lugar da mídia tradicional, declarada morta pelo pós-modernismo, esses artistas adotaram formas alternativas de "suporte técnico." p 86


"Limitar um trabalho de arte digital para a especificidade do "suporte técnico", seja uma obra de Roy Ascott pela consciência planetária (2003), ou de Susan Kozel sobre a personificação e afeto, ou a investigação de Jogging sobre as economias de imagem e do objeto, tem a vantagem de evitar discussão sobre os meios tecnológicos, em si." p 87

"O melhor aspecto da arte digital, indiscutivelmente, é o fato de explorar e expandir a pesquisa artística para além de uma fixação míope de meio ou suporte, como afirmou Kosuth e outros autores, há mais de quatro décadas." p 87

"A nossa existência se torna cada vez mais digital e os emblemas de uma cultura material pertinentes ao mercado da arte contemporânea parecem cada vez mais fora do lugar, ou, pelo menos, cada vez mais em tensão com o fluxo real de ideias, imagens e obras de arte estabelecidas em meio às redes informáticas."p 88

"As teorias e tecnologias no cerne do desenvolvimento histórico das novas mídias, juntamente aos artistas e às práticas sociais de seus projetos ocupam uma instância híbrida, questionando a especificidade do meio e uma série de tendências não determinadas incluindo a intermídia, a multimídia, a participação e a convergência. " p 88

"Por outro lado, os fundamentos básicos da computação teorizados por Alan Turing consideram o computador como uma "máquina universal", capaz de emular funções específicas de qualquer outro dispositivo. Este conceito e distinto de todos os outros específicos." p 88-89

"a arte digital dá sinais de sucesso pelos seus próprios objetivos. Neste contexto, ocorre sua convergência com a evolução mais geral do mercado de arte contemporânea, em direção a uma condição pós-midiática, cujos fundamentos vislumbram uma aproximação entre os dois discursos ostensivamente independentes." p . 89

"Talvez uma das maiores contribuições da arte digital para o discurso do mercado da arte contemporânea seja o entendimento das relações entre materiais, ferramentas e técnicas que abarcam, simultaneamente, os meios específicos e a condição pós midiática. " p 89

"a apropriação das lógicas subjacentes da emergência tecnológica, fazem-na emergir de seu contexto nativos e a inserem em produções mais ou menos tradicionais no campo da arte. Alguns exemplos de arte digital podem apresentar potencialidades e perspectivas interessantes, produção bem sucedida quando aplicada ao contexto expositivo, viabilizando aproximações implícitas e explícitas entre ciÊncia e tecnologia enquanto um catalizador de informações com discurso híbrido." p 89-90

"Esse caráter antiestético, a presença de conceitos críticos e as regras formais próprias geram uma obra que não precisa se vista em um local específico, ou em um único modo, em uma condição divinizada de valores estéticos, e sim, ser simplesmente vista, ser interativa e, caso contrário, reinterpretada e rearticulada em qualquer lugar por dispositivos móveis." p 90

"A violação de tabus é um importante passo na história da arte. Um discurso periférico como o da arte digital, apresenta uma vantagem considerável para rever a contestar o status quo. " p 90

"Muitas obras de arte que utilizam novas mídias e alcançam uma aceitação geral, continuam renegadas enquanto arte digital pelo mercado de arte contemporânea, pois seus artistas não se identificam enquanto tal." p 91

"Não obstante, os críticos e a audiência do mercado da arte contemporânea encontram problemas na aceitação e vernaculização da computação (sistemas operacionais, aplicativos, sites, teclados, monitores, impressoras) como objetos estéticos (Murray,2007). Dificuldades semelhantes são encontradas na banalização estética e visual da arte conceitual, na efemeridade e ausência do objeto da performance, e no contexto remoto da land art, tendencias que conseguiram superar seus obstáculos." p 93

"Nós vivemos em uma cultura digital global, cujos materiais e técnicas das novas mídias se tornam rapidamente acessíveis para grande parcela da população." p 93

"Neste contexto, quais são as regras para os artistas, curadores, teóricos e críticos? O que eles têm de especial para oferecer? Quais os ganhos para essa dinâmica, coletiva, criativa? Por que se importar com a arte digital ou o mercado de arte, por si só? O que está em jogo com a preservação da distinção ou indistinção das práticas artísticas, de recepção e produção cultural popular? " p 93

"As bases gerais que definem os "critérios de estética", no sentido de uma coerência formal, são o "valor simbólico", "as relações humanas", e a modelagem de valores sociais. Estes termos são neutros quanto ao meio e ao contexto, por isso, oferecem um tipo de abertura que torna possível a confluência de vários mundos da arte." p 94

"A prática artística especializada apresenta poética e a metáfora como desafios, deslocando valores e relações sociais. Estas abordagens são substancialmente diferentes de outros métodos de contestação e construção de conhecimento. Elas próprias são complexas e dúbias, questionando os conceitos estéticos e materiais." p 94

"Ultimamente, a pesquisa em arte se distingue por elaborar praticas visionárias, simbólicas e metacríticas coerentes às exigências culturais atuais.(...) Este método meta-crítico oferece aos artistas oportunidades vantajosas em atuar na cultura digital, com a intenção de, como Bourrieaud coloca, "habitar o mundo da melhor forma"(2004,p.11-12). "  p 94 - 95

"Existem culturas econômicas nas quais a criação e a holding multiplicam a riqueza para seu próprio bem, e o valor não é superposto à divisão ou concessão. (...). O "autêntico valor imaterial" do trabalho de arte permitiria a aquisição da obra através do pagamento em ouro (cuja metade seria jogada no rio Sena, pelo artista),ou através de um trato em que o colecionador obteria o recibo de propriedade, o qual deveria ser queimado por ele próprio para alcançar a materialização completa da obra." p 95

"quais são as implicações se estes mundos colidissem e o mercado valorizasse, além da conta, um trabalho que desafia seus próprios valores tradicionais? Se, como Langill coloca, o mercado de arte aceitasse a obra de Ascott e sua ideologia de autoria compartilhada, significaria uma nova lógica no comprometimento ideológico pela distribuição econômica da venda da obra de arte. O que, depois de tudo, poderia gerar mais capital cultural em uma dádiva econômica que torna a apreciação um critério de valor em uma obra de arte, que foi o prenúncio da cultura da participação?" p 96


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