Fichamento: Audiodescrição de pinturas são neutras? Descrição de um pequeno corpus em português via Teoria da Avaliatividade. Pedro Henrique Lima PrAXEDES Filho, Célia Maria Magalhaes. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/0B_Tn2hKXp0qxMlZlUTlrblZnNG8/view
“A pesquisa cuja primeira parte
apresentamos aqui integrou o subprojeto, dentro do escopo do
PROCAD-PosLA/PosLin, referentes as PcDVs :”Elaboração de um modelo de Audiodescrição
para cegos a partir de subsídios dos estudos de multimodalidade, semiótica
social e estudos de tradução”(doravante, vamos nos referir ao subprojeto como
PROCAD-PosLA/PosLin-AD)”
“É preconizado na literatura não
acadêmica sobre AD(...), que o texto descritivo de uma cena de filme, um
programa de TV, uma pintura, uma escultura, uma exposição de museu, um
monumento urbano, uma partida esportiva, uma peça de teatro etc. ou, em outras
palavras, o roteiro de uma AD tem de ser isento de qualquer
avaliação/interpretação.”p2
“A justificativa para essas
prescrições tem a ver com o argumento de que não se pode retirar das PcDVs o
direito de elas ... constituírem as avaliações/interpretações e as emoções
suscitadas pelo objeto da AD.” P 2
“Essa prescrição de neutralidade
incomodava os pesquisadores e audiodescritores envolvidos no
PROCAD-PosLA/PosLin-AD. Quanto aos pesquisadores, por serem linguistas
aplicados com formação também em linguística, resistiam a incluir a
neutralidade no conjunto de parâmetros em construção e assim se posicionavam
porque sabiam –com base em varias teorias, especialmente a Teoria da
Avaliatividade (TA) tal como proposta no escopo da linguística
Sistêmico-Funcional( LSF) - , trata-se de um parâmetro impraticável dada a
impossibilidade de existirem textos orais, escritos ou sinalizados sem marcas
autorais quanto às avaliações/interpretações de autores frente aos significados
realizados em seus textos.” P 3
"Jakobson(2000/1959) defende que
traduzir é interpretar signos em outros signos ... e a LSF entende o TT como
retextualização de um texto-fonte por um novo autor, cuja a voz se faz
presente. Quanto aos audiodescritores, a eles era demandado muito tempo até que
expurgassem seus textos de tudo quanto parecesse ser
avaliativo/interpretativo.” P 3
“A neutralidade é ainda
consensual na maioria dos centros onde roteiros de AD para PcDVs são
produzidos. Portanto, poucos trabalhos foram publicados que tenham questionado
esse parâmetro. Tínhamos conhecimento de apenas dois. O primeiro é
Holland(2009), que é um ensaio sobre a impossibilidade de neutralidade em
roteiros de AD para o teatro e as artes visuais em geral com base apenas em sua
experiência como audiodescritor(...) O segundo é Jiménez Hurtado (2007), que
relata uma pesquisa cujo objetivo foi descrever o novo registro ‘AD filmica’ do
ponto de vista, dentre outros, avaliativos/interpretativo, mas tão somente sob
a ótica dos sentimentos de emoção, usando categorias próprias. A presente
pesquisa se justificou, então, por ter sido a primeira que investigou a
neutralidade em roteiros de AD de pinturas e sob uma perspectiva teórica
abrangente, a da TA” P 4
“É necessário dizer que a
academia, ao reconhecer a AD como um tipo de TAV dentro dos Estudos de
Tradução, absorveu o parâmetro de neutralidade. No Brasil Silva et al.(2010)
dizem, a esse respeito:
...o
áudio-descritor (sic) não pode interferir em tais imagens e precisa seguir
fielmente a regra geral “Descreva o que você vê!”. Aí reside uma especialização
na constituição do gênero áudio-descrição (sic) e na veiculação deste: a
objetividade... . ... o tradutor assume o papel de ator invisível ... para
prevenir que a individualidade do profissional se sobreponha a obra, é
fundamental que a áudio-descrição (sic) esteja alicerçada pelo aporte teórico
até hoje postulado ...(p.10/12/16)
... ao defenderem que “...o áudio-descritor (sic)... precisa
seguir fielmente a regra geral “Descreva o que você vê!” e que “... assume o
papel de ator invisível...” (p.10). Além de Silva Et al.(2010), há, ainda no
Brasil, Vilaronga (2009) – que, ao falar de AD no cinema, postula a favor da
fidelidade ao filme por parte do audiodescritor
a quem fica interditado “...julga ou interpretar o filme” (p.1060) - , e
Navarro (2012), que – ao tratar de AD na publicidade - , advoga por uma
descrição limitada exclusivamente ao que aparece na imagem e desprovida de
juízos de valores pessoais. ... Apesar de não tê-lo citado, Vilaronga(2009)
certamente consultou Snyder (2008), que igualmente sem se distanciar , de
nenhum modo, do documento americano fornece as seguintes orientações ...
Os descritores têm de resumi-la [a
língua usada em uma Audiodescrição] com a sigla ‘WYSIWYS’ , isto é, ‘What You
See Is What You Say’ ... . O melhor audiodescritor é chamado, as vezes, de
‘lente de câmera verbal’, capaz de, objetivamente, recontar aspectos visuais de
uma exposição ou de um programa audiovisual ...
É certamente Inquestionável que as PcDVs têm capacidade
cognitiva e emotiva plena, mas é questionável se os audiodescritores conseguem
escrever roteiros plenamente neutros.” (p. 5,6)
“A TA- ... – fundamenta-se, no escopo da área mais geral da
semiótica social, na Escola de Sydney da LSF e a expande. ... A LSF- dado seu
viés funcionalista em contraposição ao viés formalista -, não se limita a
estudar a língua apenas do ponto de vista intralinguístico do significado
(semântica), da forma (lexicogramática) e da expressão (fonologia e
fonética-grafologia e grafética). Antes de chegar aos estratos
intralinguísticos, a teoria hallidayana partedo estrato ainda extralinguístico
dos contextos de cultura e de situação(Social) (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014) .
A cultura é o nível de contexto
abrangedor e geral, no qual o sistema linguístico em sua inteireza – a língua
propriamente dita – está inserido. O contexto de cultura, então, abrange o
potencial linguístico inteiro e vice-versa. Por outro lado, a situação diz
respeito ao nível de contexto imediato e específico, no qual uma porção muito
restrita do sistema linguístico - uma
instancia da língua inteira ou um texto, seja falado, escrito ou sinalizado -,
está inserida. O contexto de situação - ... -, é previsível a partir do texto e
vice-versa. ” P 7
“Ainda por ser uma teoria
funcionalista, a LSF transcende o único tipo de significado considerado pela
semântica formalista – o representacional – e estuda outros dois tipos – o
interativo e o textual.” P 7
“os tipos de significados são
universais linguísticos resultantes dos usos comuns que todos os humanos
fazemos das línguas em sociedade, constituindo-se nas funções da linguagem
verbal ou metafunções.” P 7
“a metafunção textual ou instrumental
ou viabilizadora (o falante é simultaneamente observador e intruso e, imbricado
nessas duas perspectivas assume também o papel de produtor de textos) nos
habilita a compor textos orais, escritos ou sinalizados coesos e coerentes, por
via dos quais interagimos com o outro sobre nossas representações experienciais
ou, melhor dizendo, trocamos, com ele, as nossas representações experienciais
(individuais/subjetivas) das informações e os bens e serviços que circulam em
cada contexto de situação da cultura.” P8
“uma vez dentro do estrato formal, as
escolhas feitas nas redes de sistemas de transitividade, modo e tema, para
falar apenas das principais, são realizadas, na hierarquia da oração, por
funções estruturais: a oração como representação constitui-se das funções
Participante – Processo- Circunstancia; a oração como troca, das funções
Modo(Sujeito – Finito) e Resíduo (Predicador-Complemento- adjunto
circunstancial); a oração como mensagem, das funções Tema-Rema (fase
funcional/sintagmática da semiose cognitiva).” P8
"Cada área da lexicogramática ativa o
sistema de sons ou sinais –fonologia ou o sistema de letras-grafologia, sendo
por eles realizada (semiose física). Mais uma vez, o contraponto dialético está
presente: a fonologia-grafologia constrói e realiza a área lexicogramatical
correspondente .” p 8,9
“Dentro ...da LSF, o sistema de
avaliatividade da TA, ..., encontra-se no estrato da semântica, inserido, mais
especificamente, na metafunção interpessoal. Trata-se de uma rede de sistemas
de significados avaliativos." p9
“Uma rede de sistemas é um conjunto
de sistemas inter-relacionados, cuja organização relacional se dá através dos
níveis de delicadeza da escala de delicadeza ou refinamento/detalhamento. Um
sistema por sua vez, é um conjunto de
termos mutuamente excludentes/não simultâneos ou simultâneos dentre os quais o
falante/escritor faz escolhas. Cada rede de sistemas tem uma condição de
entrada inicial que estabelece seu ambiente/escopo e enseja que sejam feitas
escolhas dentre os termos dos sistemas no primeiro nível de delicadeza, os mais
gerais.”p 9
“A rede de sistemas avaliativa
comporta, em um primeiro nível de delicadeza a partir da condição de entrada
inicial ‘avaliatividade’, o sistema simultâneo TIPOS DE AVALIATIVIDADE ,com os
seguintes termos/escolhas: ‘atitude’(...TIPOS DE ATITUDE são áreas de
significados interpessoais dos quais o falante- escritor avalia/interpreta
positiva ou negativamente os sentimentos, e/ou ‘engajamento’ (... TIPOS DE
ENGAJAMENTO são áreas de significados interpessoais através dos quais o
falante-escritor avalia/interpreta via seus posicionamentos sobre o que diz e
via a relação entre o dizer autoral e outras vozes avaliativas presentes no
universo da intertextualidade, ...sido a dialogia bakhtiniana a base apara a
teorização a respeito. ...) e/ou ‘gradação’ (...TIPOS DE GRADAÇÃO são áreas de
significados interpessoais através dos quais o falante-escritor
avalia/interpreta por amplificação ou redução do grau das avaliações
atitudinais e do grau das avaliações pelos posicionamentos das vozes autorais e
da relação entre estas e as vozes não autorais)” p 9,10
“TIPOS DE ATITUDE... ‘afeto’
...avaliações/interpretações sobre as emoções ...; o ‘julgamento’...
avaliações/interpretações sobre o comportamento das pessoas, podendo envolver
valores que comprometem o individuo perante o circulo de pessoas de seu
convívio...; a ‘apreciação’ ...avaliações/interpretações sobre o aspecto
estético das coisas, das pessoas e dos fenômenos semiótico e naturais. ... Há
ainda no segundo nível de delicadeza, os sistemas não simultâneos POLARIDADE e
TIPOS DE REALIZAÇÃO DE ATITUDE. Os termos/escolhas do primeiro são ‘positiva’
ou ‘negativa’ ou ‘ambígua’... . Os
termos/escolhas do segundo são ‘inscrita’ ou ‘evocada’. P.10
“TIPOS DE ENGAJAMENTO comporta
termos/escolhas “monoglossia’ ou
‘heteroglossia’. O primeiro tem a ver com asserções categóricas que não
permitem o questionamento ou que não dão margem a dialogia, isto é, a ver com
asserções que podem propiciar “... desengajamento heteroglóssico”(WHITE, 2003,p
262) ... ; o segundo , por outro lado, tem a ver com o reconhecimento por parte
do falante-escritor, de que existem outras vozes ou pontos de vista acerca do
assunto que está tratando. ... TIPOS DE GRADAÇÃO disponibiliza os termos/escolhas
‘força’ e/ou ‘foco’, os quais se
combinam, ... sistema não simultâneo DIREÇÃO DA GRADAÇÃO, cujos termos são:
‘aumento’ ou ‘diminuição’. P11
”O sistema TIPOS DE FORÇA é
simultâneo, no terceiro nível de delicadeza, ao sistema simultâneo TIPOS DE
REALIZAÇÃO DE FORÇAS, cujos termos/escolhas são ‘isolada’ (... – muito
feliz )ou ‘fusionada’ (... – exultante = muito feliz)” p 11
“aproveitamos para aumentar o ‘nível
de delicadeza’ da informação: ao combinarmos a relação de conjunção com
sistemas, a simultaneidade é obrigatória e só ela é possível (...se estabelece
entre os sistemas TIPOS DE ATITUDE, POLARIDADE E TIPODE REALIZAÇÃO DE ATITUDE;
entre os sistemas TIPOS DE GRADAÇÃO e DIREÇÃO DA GRADAÇÃO; bem como entre os
sistemas TIPOS DE FORÇA e TIPOS DE REALIZACAO DE FORÇA); ... o falante-escritor
poder avaliar via ‘afeto’ e/ou ‘julgamento’ e/ou ‘apreciação’.” p 12
“Um IFS(índice de frequência
simples)é o numero de ocorrências de um dado traço linguístico por cada 1000
palavras de texto, que é o numero de ocorrências do traço dividido pelo total
de palavras de cada roteiro, com o resultado multiplicado por 1000. Esse é um
recurso estatístico para neutralizar o fato de que os roteiros têm números de
palavras corridas diferentes.” P 15
“evidencia que os audiodescritores
que escreveram os roteiros de AD, em português brasileiros, das pinturas
listadas ... não foram neutros, tendo
sido, por conseguinte avaliativos/interpretativos.”p15
“os resultados corroboram empiricamente
as pistas fornecidas por Martin e White (2005) de que não há neutralidade em língua
em decorrência do fato de que até as “... asserções categóricas ... são...
intersubjetivamente ... posicionadas ...” (P.94) e por Jakobson (2000/1959) de
que traduzir é interpretar. ...parecem corroborar também a intuição de Holland
(2009), de acordo com a qual não existe a possibilidade de neutralidade em
roteiros de AD para o teatro e as artes visuais em geral. Quanto à Jiménez
Hurtado (2007), não são somente sentimentos emotivos que estão presentes nos
roteiros de AD das pinturas, mas também sentimentos éticos e estéticos.” P 22
“Quando a impossibilidade de
neutralidade for suficientemente comprovada em roteiros de cada tipo de produto
em várias línguas será importante, tendo em vista especialmente a formação de
audiodescritores, a condução de pesquisas que investiguem se os padrões avaliativos
que emergem da análise microlinguística constituem-se, ou não, na assinatura avaliativa
do audiodescritor ou no estilo avaliativo do roteiro de AD” P25
TT = Texto Traduzido
TA = Teoria da Avaliatividade
LSF = Linguística
Sistêmico-Funcional
TAV-Ac = à Audiodescrição (AD),
tipo de tradução predominantemente
intersemiótica (semiose
visual – semiose verbal oral), podendo ser, ocasionalmente, também intrassemiótica como no caso, por
exemplo, da descrição dos créditos de um filme ou programa televisivo (semiose verbal escrita – semiose verbal
oral).
SEs=Surdos e ensurdeceidos
PcDVs_Pessoa com deficiência
visual
TAV-Ac =tradução audiovisual
acessivel
TAV =taducao audiovisual
LSE=Legendagem para surdos e
ensurdecidos
AD= Audiodescriçaõ
PosLA-CH-UECE = Programa de Pós
graduação em Linguistica Aplicada –Centro de Humanidades da UECE
LATAV = LABORATÓRIO DE TRADUCAO
AUDIOVISUAL
PosLin-FALE-UFMG= Programa de Pos
graduação em Estudos Linguisticos – Faculdade de Letras UFMG
LETRA= Laboratório Experimental
de Tradução
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