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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Audiodescrição de pinturas são neutras?

Fichamento: Audiodescrição de pinturas são neutras? Descrição de um pequeno corpus em português via Teoria da Avaliatividade. Pedro Henrique Lima PrAXEDES Filho, Célia Maria Magalhaes. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/0B_Tn2hKXp0qxMlZlUTlrblZnNG8/view 


“A pesquisa cuja primeira parte apresentamos aqui integrou o subprojeto, dentro do escopo do PROCAD-PosLA/PosLin, referentes as PcDVs :”Elaboração de um modelo de Audiodescrição para cegos a partir de subsídios dos estudos de multimodalidade, semiótica social e estudos de tradução”(doravante, vamos nos referir ao subprojeto como PROCAD-PosLA/PosLin-AD)”

“É preconizado na literatura não acadêmica sobre AD(...), que o texto descritivo de uma cena de filme, um programa de TV, uma pintura, uma escultura, uma exposição de museu, um monumento urbano, uma partida esportiva, uma peça de teatro etc. ou, em outras palavras, o roteiro de uma AD tem de ser isento de qualquer avaliação/interpretação.”p2

“A justificativa para essas prescrições tem a ver com o argumento de que não se pode retirar das PcDVs o direito de elas ... constituírem as avaliações/interpretações e as emoções suscitadas pelo objeto da AD.” P 2

“Essa prescrição de neutralidade incomodava os pesquisadores e audiodescritores envolvidos no PROCAD-PosLA/PosLin-AD. Quanto aos pesquisadores, por serem linguistas aplicados com formação também em linguística, resistiam a incluir a neutralidade no conjunto de parâmetros em construção e assim se posicionavam porque sabiam –com base em varias teorias, especialmente a Teoria da Avaliatividade (TA) tal como proposta no escopo da linguística Sistêmico-Funcional( LSF) - , trata-se de um parâmetro impraticável dada a impossibilidade de existirem textos orais, escritos ou sinalizados sem marcas autorais quanto às avaliações/interpretações de autores frente aos significados realizados em seus textos.” P 3

"Jakobson(2000/1959) defende que traduzir é interpretar signos em outros signos ... e a LSF entende o TT como retextualização de um texto-fonte por um novo autor, cuja a voz se faz presente. Quanto aos audiodescritores, a eles era demandado muito tempo até que expurgassem seus textos de tudo quanto parecesse ser avaliativo/interpretativo.” P 3

“A neutralidade é ainda consensual na maioria dos centros onde roteiros de AD para PcDVs são produzidos. Portanto, poucos trabalhos foram publicados que tenham questionado esse parâmetro. Tínhamos conhecimento de apenas dois. O primeiro é Holland(2009), que é um ensaio sobre a impossibilidade de neutralidade em roteiros de AD para o teatro e as artes visuais em geral com base apenas em sua experiência como audiodescritor(...) O segundo é Jiménez Hurtado (2007), que relata uma pesquisa cujo objetivo foi descrever o novo registro ‘AD filmica’ do ponto de vista, dentre outros, avaliativos/interpretativo, mas tão somente sob a ótica dos sentimentos de emoção, usando categorias próprias. A presente pesquisa se justificou, então, por ter sido a primeira que investigou a neutralidade em roteiros de AD de pinturas e sob uma perspectiva teórica abrangente, a da TA” P 4

“É necessário dizer que a academia, ao reconhecer a AD como um tipo de TAV dentro dos Estudos de Tradução, absorveu o parâmetro de neutralidade. No Brasil Silva et al.(2010) dizem, a esse respeito:
                ...o áudio-descritor (sic) não pode interferir em tais imagens e precisa seguir fielmente a regra geral “Descreva o que você vê!”. Aí reside uma especialização na constituição do gênero áudio-descrição (sic) e na veiculação deste: a objetividade... . ... o tradutor assume o papel de ator invisível ... para prevenir que a individualidade do profissional se sobreponha a obra, é fundamental que a áudio-descrição (sic) esteja alicerçada pelo aporte teórico até hoje postulado ...(p.10/12/16)
... ao defenderem que “...o áudio-descritor (sic)... precisa seguir fielmente a regra geral “Descreva o que você vê!” e que “... assume o papel de ator invisível...” (p.10). Além de Silva Et al.(2010), há, ainda no Brasil, Vilaronga (2009) – que, ao falar de AD no cinema, postula a favor da fidelidade ao filme por parte do audiodescritor  a quem fica interditado “...julga ou interpretar o filme” (p.1060) - , e Navarro (2012), que – ao tratar de AD na publicidade - , advoga por uma descrição limitada exclusivamente ao que aparece na imagem e desprovida de juízos de valores pessoais. ... Apesar de não tê-lo citado, Vilaronga(2009) certamente consultou Snyder (2008), que igualmente sem se distanciar , de nenhum modo, do documento americano fornece as seguintes orientações ...
                               Os descritores têm de resumi-la [a língua usada em uma Audiodescrição] com a sigla ‘WYSIWYS’ , isto é, ‘What You See Is What You Say’ ... . O melhor audiodescritor é chamado, as vezes, de ‘lente de câmera verbal’, capaz de, objetivamente, recontar aspectos visuais de uma exposição ou de um programa audiovisual ...
É certamente Inquestionável que as PcDVs têm capacidade cognitiva e emotiva plena, mas é questionável se os audiodescritores conseguem escrever roteiros plenamente neutros.” (p. 5,6)

“A TA- ... – fundamenta-se, no escopo da área mais geral da semiótica social, na Escola de Sydney da LSF e a expande. ... A LSF- dado seu viés funcionalista em contraposição ao viés formalista -, não se limita a estudar a língua apenas do ponto de vista intralinguístico do significado (semântica), da forma (lexicogramática) e da expressão (fonologia e fonética-grafologia e grafética). Antes de chegar aos estratos intralinguísticos, a teoria hallidayana partedo estrato ainda extralinguístico dos contextos de cultura e de situação(Social) (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014) .
A cultura é o nível de contexto abrangedor e geral, no qual o sistema linguístico em sua inteireza – a língua propriamente dita – está inserido. O contexto de cultura, então, abrange o potencial linguístico inteiro e vice-versa. Por outro lado, a situação diz respeito ao nível de contexto imediato e específico, no qual uma porção muito restrita do sistema linguístico  - uma instancia da língua inteira ou um texto, seja falado, escrito ou sinalizado -, está inserida. O contexto de situação - ... -, é previsível a partir do texto e vice-versa. ” P 7

“Ainda por ser uma teoria funcionalista, a LSF transcende o único tipo de significado considerado pela semântica formalista – o representacional – e estuda outros dois tipos – o interativo e o textual.” P 7

“os tipos de significados são universais linguísticos resultantes dos usos comuns que todos os humanos fazemos das línguas em sociedade, constituindo-se nas funções da linguagem verbal ou metafunções.” P 7

“a metafunção textual ou instrumental ou viabilizadora (o falante é simultaneamente observador e intruso e, imbricado nessas duas perspectivas assume também o papel de produtor de textos) nos habilita a compor textos orais, escritos ou sinalizados coesos e coerentes, por via dos quais interagimos com o outro sobre nossas representações experienciais ou, melhor dizendo, trocamos, com ele, as nossas representações experienciais (individuais/subjetivas) das informações e os bens e serviços que circulam em cada contexto de situação da cultura.” P8

“uma vez dentro do estrato formal, as escolhas feitas nas redes de sistemas de transitividade, modo e tema, para falar apenas das principais, são realizadas, na hierarquia da oração, por funções estruturais: a oração como representação constitui-se das funções Participante – Processo- Circunstancia; a oração como troca, das funções Modo(Sujeito – Finito) e Resíduo (Predicador-Complemento- adjunto circunstancial); a oração como mensagem, das funções Tema-Rema (fase funcional/sintagmática da semiose cognitiva).” P8

"Cada área da lexicogramática ativa o sistema de sons ou sinais –fonologia ou o sistema de letras-grafologia, sendo por eles realizada (semiose física). Mais uma vez, o contraponto dialético está presente: a fonologia-grafologia constrói e realiza a área lexicogramatical correspondente .” p 8,9

“Dentro ...da LSF, o sistema de avaliatividade da TA, ..., encontra-se no estrato da semântica, inserido, mais especificamente, na metafunção interpessoal. Trata-se de uma rede de sistemas de significados avaliativos." p9
“Uma rede de sistemas é um conjunto de sistemas inter-relacionados, cuja organização relacional se dá através dos níveis de delicadeza da escala de delicadeza ou refinamento/detalhamento. Um sistema por sua vez, é um conjunto  de termos mutuamente excludentes/não simultâneos ou simultâneos dentre os quais o falante/escritor faz escolhas. Cada rede de sistemas tem uma condição de entrada inicial que estabelece seu ambiente/escopo e enseja que sejam feitas escolhas dentre os termos dos sistemas no primeiro nível de delicadeza, os mais gerais.”p 9

“A rede de sistemas avaliativa comporta, em um primeiro nível de delicadeza a partir da condição de entrada inicial ‘avaliatividade’, o sistema simultâneo TIPOS DE AVALIATIVIDADE ,com os seguintes termos/escolhas: ‘atitude’(...TIPOS DE ATITUDE são áreas de significados interpessoais dos quais o falante- escritor avalia/interpreta positiva ou negativamente os sentimentos, e/ou ‘engajamento’ (... TIPOS DE ENGAJAMENTO são áreas de significados interpessoais através dos quais o falante-escritor avalia/interpreta via seus posicionamentos sobre o que diz e via a relação entre o dizer autoral e outras vozes avaliativas presentes no universo da intertextualidade, ...sido a dialogia bakhtiniana a base apara a teorização a respeito. ...) e/ou ‘gradação’ (...TIPOS DE GRADAÇÃO são áreas de significados interpessoais através dos quais o falante-escritor avalia/interpreta por amplificação ou redução do grau das avaliações atitudinais e do grau das avaliações pelos posicionamentos das vozes autorais e da relação entre estas e as vozes não autorais)” p 9,10

“TIPOS DE ATITUDE... ‘afeto’ ...avaliações/interpretações sobre as emoções ...; o ‘julgamento’... avaliações/interpretações sobre o comportamento das pessoas, podendo envolver valores que comprometem o individuo perante o circulo de pessoas de seu convívio...; a ‘apreciação’ ...avaliações/interpretações sobre o aspecto estético das coisas, das pessoas e dos fenômenos semiótico e naturais. ... Há ainda no segundo nível de delicadeza, os sistemas não simultâneos POLARIDADE e TIPOS DE REALIZAÇÃO DE ATITUDE. Os termos/escolhas do primeiro são ‘positiva’ ou  ‘negativa’ ou ‘ambígua’... . Os termos/escolhas do segundo são ‘inscrita’ ou ‘evocada’. P.10

“TIPOS DE ENGAJAMENTO comporta termos/escolhas “monoglossia’ ou  ‘heteroglossia’. O primeiro tem a ver com asserções categóricas que não permitem o questionamento ou que não dão margem a dialogia, isto é, a ver com asserções que podem propiciar “... desengajamento heteroglóssico”(WHITE, 2003,p 262) ... ; o segundo , por outro lado, tem a ver com o reconhecimento por parte do falante-escritor, de que existem outras vozes ou pontos de vista acerca do assunto que está tratando. ... TIPOS DE GRADAÇÃO disponibiliza os termos/escolhas ‘força’ e/ou  ‘foco’, os quais se combinam, ... sistema não simultâneo DIREÇÃO DA GRADAÇÃO, cujos termos são: ‘aumento’ ou ‘diminuição’. P11

”O sistema TIPOS DE FORÇA é simultâneo, no terceiro nível de delicadeza, ao sistema simultâneo TIPOS DE REALIZAÇÃO DE FORÇAS, cujos termos/escolhas são ‘isolada’ (... – muito feliz )ou ‘fusionada’ (... – exultante = muito feliz)” p 11

“aproveitamos para aumentar o ‘nível de delicadeza’ da informação: ao combinarmos a relação de conjunção com sistemas, a simultaneidade é obrigatória e só ela é possível (...se estabelece entre os sistemas TIPOS DE ATITUDE, POLARIDADE E TIPODE REALIZAÇÃO DE ATITUDE; entre os sistemas TIPOS DE GRADAÇÃO e DIREÇÃO DA GRADAÇÃO; bem como entre os sistemas TIPOS DE FORÇA e TIPOS DE REALIZACAO DE FORÇA); ... o falante-escritor poder avaliar via ‘afeto’ e/ou ‘julgamento’ e/ou ‘apreciação’.” p 12

“Um IFS(índice de frequência simples)é o numero de ocorrências de um dado traço linguístico por cada 1000 palavras de texto, que é o numero de ocorrências do traço dividido pelo total de palavras de cada roteiro, com o resultado multiplicado por 1000. Esse é um recurso estatístico para neutralizar o fato de que os roteiros têm números de palavras corridas diferentes.” P 15

“evidencia que os audiodescritores que escreveram os roteiros de AD, em português brasileiros, das pinturas listadas ...  não foram neutros, tendo sido, por conseguinte avaliativos/interpretativos.”p15

“os resultados corroboram empiricamente as pistas fornecidas por Martin e White (2005) de que não há neutralidade em língua em decorrência do fato de que até as “... asserções categóricas ... são... intersubjetivamente ... posicionadas ...” (P.94) e por Jakobson (2000/1959) de que traduzir é interpretar. ...parecem corroborar também a intuição de Holland (2009), de acordo com a qual não existe a possibilidade de neutralidade em roteiros de AD para o teatro e as artes visuais em geral. Quanto à Jiménez Hurtado (2007), não são somente sentimentos emotivos que estão presentes nos roteiros de AD das pinturas, mas também sentimentos éticos e estéticos.” P 22

“Quando a impossibilidade de neutralidade for suficientemente comprovada em roteiros de cada tipo de produto em várias línguas será importante, tendo em vista especialmente a formação de audiodescritores, a condução de pesquisas que investiguem se os padrões avaliativos que emergem da análise microlinguística constituem-se, ou não, na assinatura avaliativa do audiodescritor ou no estilo avaliativo do roteiro de AD” P25


                                                                           
TT = Texto Traduzido
TA = Teoria da Avaliatividade
LSF = Linguística Sistêmico-Funcional
TAV-Ac = à Audiodescrição (AD), tipo de tradução predominantemente
intersemiótica (semiose visual – semiose verbal oral), podendo ser, ocasionalmente, também intrassemiótica como no caso, por exemplo, da descrição dos créditos de um filme ou programa televisivo  (semiose verbal escrita – semiose verbal oral).
SEs=Surdos e ensurdeceidos
PcDVs_Pessoa com deficiência visual
TAV-Ac =tradução audiovisual acessivel
TAV =taducao audiovisual
LSE=Legendagem para surdos e ensurdecidos
AD= Audiodescriçaõ
PosLA-CH-UECE = Programa de Pós graduação em Linguistica Aplicada –Centro de Humanidades da UECE
LATAV = LABORATÓRIO DE TRADUCAO AUDIOVISUAL
PosLin-FALE-UFMG= Programa de Pos graduação em Estudos Linguisticos – Faculdade de Letras UFMG

LETRA= Laboratório Experimental de Tradução 

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