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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Acessibilidade Televisiva e surdez

Com o conceito internalizado a respeito das línguas de sinais e da importância para a comunicação efetiva e eficiente da comunidade surda detentora dela, percebo que a forma utilizada hoje para a acessibilidade televisiva não corresponde de fato ao objetivo por ela esperado. Com o mercado em expansão e novos aparelhos de televisão sendo lançados, as emissoras possuem recursos para de fato incluir os cidadãos Surdos. Não o fazem por diversos motivos, dentre eles acredito que a falta de conhecimento a respeito da Comunidade Surda e de suas carências.
Os sujeitos Surdos, com a falta de acessibilidade, acabam por se sentirem excluídos de uma sociedade em que estão inseridos, vivendo paralelamente ao mundo ouvinte, com sua comunidade surda, onde interage e tem uma vida social ativa e participativa. Aos poucos o mito da deficiência passa a ser esquecido e a realidade da língua de sinais é aceita pela sociedade. Em países mais desenvolvidos já se pode visualizar a comunicação do Surdo em todas as esferas dela.
Partindo pelo pressuposto da aquisição do português pela comunidade surda, a televisão brasileira auxilia de maneira significativa o aprendizado da língua, uma carência que está dentro das escolas de todo o país, onde os professores começam a ser preparados para trabalhar com diversas deficiências, porém a realidade da inclusão não propõe uma proposta bilíngue para eles. A partir dos estudos percebo que o individuo Surdo possui dificuldade na aquisição do português, por um atraso na aquisição de sua primeira língua.
Percebo que a televisão possui um papel importante na construção da cidadania. A comunidade surda como diz REICHERT, ainda que não entenda a língua oral presente no conteúdo televisivo, as imagens e movimento proporcionado pela arte, faz com que o individuo Surdo construa sua identidade e também sua cidadania. O português deve estar presente na vida do individuo Surdo, apenas como forma de aprendizado, porém a maneira dolorosa de se compreender a televisão somente a partir dele, cria por diversas vezes barreiras psicológicas para o efetivo entendimento do que de fato acontece na programação.
A tecnologia já nos proporciona as possibilidades para a concretização desta acessibilidade. A proposta utilizada pelas emissoras é defasada e não atinge seu objetivo. Para aquele surdo que adquiriu a surdez após a fluência do português, ler a legenda se torna fácil e a compreensão do conteúdo significativa, porém para aquele indivíduo que possui como sua primeira língua a Libras assistir televisão passa por diversas vezes para um momento de aprendizagem, com palavras desconhecidas a todo o momento, palavras que por diversas vezes uma criança pode compreender.
Assim como a qualidade da legenda a escolha dos tradutores intérpretes deve passar por uma rigorosa seleção. A Libras, como o inglês ou alemão, exige fluência para o exercício da tradução. A interação com usuários desta língua é fundamental para que o tradutor adapte sua interpretação para uma compreensão nacional desta comunidade. A utilização dos parâmetros é essencial para essa fluência.
Os estudos referentes ao tema são poucos e os meios de telecomunicação em massa ainda não se atentam para a importância deste recurso. A disponibilidade de acesso nas duas línguas dentro da televisão brasileira gera uma gama de oportunidades ao individuo surdo e de como este deve se relacionar em sociedade, lembrando que a televisão pretende entreter e informar ao cidadão brasileiro a respeito dos acontecimentos relacionados ao Brasil e ao mundo. Algumas emissoras propõe também programas educativos, onde educam uma parcela majoritária dos interessados pela informação, deixando o Surdo fora deste conhecimento.
A dependência constante do individuo Surdo de uma pessoa ouvinte para lhe explicar o conteúdo televisivo, mostra a necessidade deste para compreender. Quando o Surdo está desamparado não é somente ele que sofre, mas também todos ao seu redor. Se levarmos em consideração que a maioria das crianças ouvintes, filhas de pais Surdos passam por grande parte da vida exercendo a função de intérprete em sua própria casa, creio que a acessibilidade televisiva deverá ser revista imediatamente.
Desmistificando o preconceito perante a língua de sinais, a sociedade ouvinte pode se relacionar com a comunidade Surda, e assim se tornarem efetivamente membros além da comunidade surda também da sociedade brasileira, exercendo seus direitos e compreendendo o mundo de maneira mais significativa.
Quando digo preconceito sabemos que este vem diminuindo gradativamente, porém a passos lentos, onde os indivíduos surdos sofrem com os olhares curiosos de quem não conhece a Libras. À medida que a sociedade percebe a Libras como uma língua completa e complexa, esses olhares estão se transformando em admiração. Com seu aprendizado tornando um processo doloroso para aqueles que não possuem contato com a comunidade.

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